terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Babalorixá Príncipe Custódio






Um homem poderoso, influente, um líder espiritual e conselheiro de políticos gaúchos como Julio de Castilhos e Borges de Medeiros. De Benin, na África até Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, o príncipe negro traçou uma história cheia de mistérios.
A invasão inglesa em 1897 força um grande número de nobres africanos a saírem de Benin e procurar refúgio em outras regiões da África. São João Batista de Ajudá, um porto não muito distante do reino de Benin, foi o local escolhido pelo príncipe negro para permanecer durante aqueles tempos conturbados; lá ele morou durante dois meses, acompanhado por oficiais ingleses e por parte do seu conselho de chefes, dali embarcado para o Brasil.
Custódio Joaquim de Almeida, nome adotado no porto de Ajudá. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho de Oba Ovonramwen (oba quer dizer Rei em Yorubá), foi um fervoroso opositor britânico. Existem muitas histórias em relação à saída do príncipe de Benin, todas porém estão associadas à invasão britânica. Osuanlele teria feito um acordo para deixar o país e viver no estrangeiro, onde receberia mensalmente uma pensão do governo inglês.
Em 2 de setembro de 1898, o príncipe Custódio, pisa em solo brasileiro, na Bahia, onde permanece por um tempo e vai para o Rio de Janeiro, ficando aproximadamente dois meses.
Através de consultas ao jogo de búzios, Custódio é orientado pelos Orixás a seguir para o sul do Brasil, chagando a cidade portuária de Rio Grande em 1899, e por prováveis perseguições que tinham sido enviadas de seus inimigos na África ele vai para a cidade de Pelotas, no ano de 1900, onde conheceu o político Julio de Castilhos, que o procurou como último recurso para remediar um câncer que tomava conta de sua garganta. Seguindo orientação dos Orixás, o príncipe chega em Bagé, e acaba fortalecendo toda questão da religião africana, que já existira no sul com muitas ressalvas.
Homem com poder de mobilização dentro da comunidade, uma pessoa que conseguia muitas coisas, e sua fama de curandeiro já percorria todo país, e foi em busca de cura que Julio de Castilhos convidou o príncipe para vir morar em Porto Alegre.
Com a aprovação dos Orixás, Custódio Joaquim de Almeida chega em Porto Alegre para nunca mais sair. Residia com sua corte na rua Lopo Gonçalves, 498 onde recebia várias personalidades, tanto do Rio de Janeiro, da África que o procuravam, como os políticos locais.
A presença de Custódio em Porto Alegre e o seu relacionamento com grandes políticos contribuiu muito para que não houvesse perseguições às casa de religião, o que se torna bem marcante após sua morte.
Preocupada com as lutas entre chimangos e maragatos dona Carlinda, esposa de Borges de Medeiros, foi procurar o príncipe negro em busca de proteção para o marido. O poder da religião africana praticada por Custódio encantava a alta sociedade da época e trazia a sua casa gente simples e visitas ilustres; ele já mais fechava as portas a qualquer pessoa, os necessitados o procuravam com os mais diversos fins; as mulheres ele encaminhava para fazer trabalhos domésticos, e os enfermos ficavam até serem curados das doenças e debilidades.
Sempre bem vestido, desfilava pela cidade em uma carruagem, puxado por uma parelha de cavalos brancos e pretos; era proprietário de um haras, onde cuidava de seus cavalos e de vários outros políticos importantes; quando chagava a época de treinar os cavalos, ele montava as carretas e a família toda ia junta para os cavalos ser treinado no mar, marcharem no mar; levavam uma semana para chegar e era uma festa.
O mercado público de Porto Alegre era muito movimentado, e para resguardo, príncipe Custódio fez o assentamento de um Bará, que é o guardião das casas, cidades e das pessoas; na África também é comum o assentamento do Bará nos mercados.
No Rio Grande do Sul existe um número expressivo de casas de religião africana, mais de 70.000 (setenta mil casas), é quase como um quilombo, desenvolvendo uma ação social também.
Mais de um século após a chegada do príncipe negro em Porto Alegre, aqueles que praticam a religião africana, após um ritual religioso,seguem em direção ao mercado público, para cumprimentar, agradecer e homenagear o Bará que lá foi assentado por Custódio Joaquim de Almeida.
Não se sabe como Custódio escolheu o nome pelo qual se identificou aqui no Brasil, mas é curioso o fato de que o sobrenome escolhido teria semelhança com um ex-escravo chamado Manuel Joaquim d'Almeida, um mahi da família Azima, nascido na aldeia de Hoko, e cujo nome, antes do batismo, era Gbego Sokpa. Após muitos anos na Bahia, Joaquim, ainda escravo ou já liberto, fez, entre 1835 e 1845, várias viagens à costa, a serviço de seu dono ou ex-dono e também por conta própria, até que decidiu instalar-se de vez na África, em Ágüe, onde fundou o bairro Zokikomé. Joaquim era católico convicto, ainda que católico à baiana, ganhou um bom dinheiro no comércio negreiro; era proprietário de uma casa em Salvador, tinha nove escravos a seu serviço; era credor de mercadores de escravos em Pernambuco e Havana, Joaquim d'Almeida tornou-se o maior mercador de escravos em Ágüe, e o líder local da comunidade brasileira. Uma parte de seu êxito deve-se ao fato de ter sido feito pelo rei Glidji o chefe da alfândega nas praias entre Aguê e Popô pequeno, coletando, portanto, as taxas devidas pelos navios que ali comerciavam, o que lhe dava enorme vantagem sobre seus competidores, mesmo assim não deixara de ter contato com o Brasil, principalmente com a Bahia. Joaquim d'Almeida, apesar de ser católico devoto, era também polígamo; dele identificaram-se 82 filhos. Vê-se aí uma descendência grandiosa herdando o sobrenome d'Almeida, que pode ou não ter influenciado o príncipe Osuanlele em Ajudá, quando escolheu o nome de Custódio Joaquim de Almeida.
Ajudá era o nome do reino, na realidade Huedá (ou Xweda) com capital em Savi, mas a palavra acabou por se aplicar à cidade onde os portugueses construíram a fortaleza de São João Batista.
O príncipe Custódio morreu em maio de 1935, aos 104 anos, na casa em que sempre morou na rua Lopo Gonçalves em Porto Alegre, e traçou uma trajetória cheia religiosidade e mistério que faz parte da história do Rio Grande do Sul

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